CRÔNICAS DE UM LEITOR

O livro está na mochila e estou seriamente preocupada se irá amassar. Está chovendo e não tive muito opção senão colocá-lo ali. Respiro fundo. Ainda estou frustrada porque o trânsito, ironicamente, estava ao meu favor, então desci do ônibus antes de acabar o capítulo. O casal da trama estava finalmente dando uns beijos descentes, dos quais ansiava fazia umas boas 40 páginas, mas ônibus sinalizou o meu ponto de descida e fui obrigada a fechar bem no meio de algumas mãos nos lugares certos.

Suspiro.

Eu realmente preciso terminar pelo menos o capítulo. Faltam tipo duas páginas... Duas! Começo a debater se vou aguentar ou não chegar até em casa. A caminhada não é muito mais que dez minutos. Mas meu coração irá aguentar meros dez minutinhos? A voz que projetei para os personagens está ressoando no meu ouvido. Decidi que o cara tem uma voz meio rouca, mas ao mesmo tempo incrivelmente sutil. A autora falhou em não descrever como era seu timbre. Então tomei as próprias rédeas e tasquei uma voz rouca e sexy para ele. A garota, acho que pelo fato de eu achá-la meio chata, resolvi que sua voz é fina, chegando a irritação.

Avisto um Starbucks. Está, como de costume, abarrotado de gente, mas,no entanto, no meio da aglomeração, avisto uma poltrona vazia. Está é a minha chance. Entro no estabelecimento e me dirijo para o assento, não ligando que honestamente não irei gastar R$12,00 em um café. Não hoje. Não agora. Agora eu só quero ver o desenrolar dessa pegação que, se for pensar, estou colocando expectativas nas nuvens. O que é sempre um erro. Mas enfim.

Me ajeito meio desajeitadamente porque, na real, porque é mochila, cachecol que retirei faz alguns minutos, luvas que me atrapalham e uma cabelo todo desengrenhado na cara. Respiro. Ajeito minhas tralhas e parto para o livro que está na mochila. Inspeciono as bordas. Tudo está nos conformes. Folheio as páginas freneticamente, caçando a página (perdi o marcador grátis da livraria faz alguns dias e não me dei ao trabalho de substituir). Achei!

A leitura flui com uma velocidade fora do comum. Já estou lendo faz alguns dias e já peguei o jeito da autora. Senhor.... O ar me falta. É muita habilidade para um homem só. Olha aí! Lá vai o sutiã. Caramba. Ela não anda merecendo essa mordomia toda. Aí meu coração. Óbvio que ele está falando todas as coisas certas, na hora certa, do jeito certo. Ele é perfeito. Perfeito!

A pegação se encerra com ambos deitados olhando para o teto. E, de repente, ela abre a boca e pronto, solta uma bomba do tamanho dos músculos do senhor perfeito e o capítulo se encerra.

Pensando bem, acho que vou pegar aquele café....

#diário #crônicas