CRÔNICAS DE UM LEITOR

A vista está embaçada e lágrimas fluem livremente pelo meu rosto. Estou debatendo se vale apena insistir em continuar lendo, já que letras e páginas já não existem mais. Uma breve preocupação me percorre e penso, por alguns segundos, se a passageira ao meu lado está pensando se estou bem. Me pergunto se ela acha que a causa de tanto desespero seria possível vir de um mero livro. Seria possível algo sem “figuras” causar tamanho sofrimento. Ou talvez ela simplesmente ache que eu sou louca, já que meros 10 minutos antes eu estava suspirando e rindo de amores. ~ Respiro fundo. E respiro mais uma vez. As lágrimas se secam e volto a enxergar as páginas. Estou determinada a terminar pelo menos este capítulo antes de chegar ao meu ponto. ~ Continuo a me aventurar em uma história com personagens tão mais novos que eu, mas tão mais maduros, que sinto uma leve pontada no estômago. Com certeza eu não era assim aos 16 anos. Sigo em frente e coloco a mão no peito, me certificando de que não irei morrer de um coração partido. ~ Fecho os olhos. Sei do que está por vir. No entanto, não sei se estou mentalmente e, bom, fisicamente preparada para o fim. As lágrimas voltam com tudo e me permito sentir qualquer sentimento que eu talvez tenha reprimido por conta da vergonha dos passageiros do ônibus. ~ O livro se encerra de forma épica e não consigo evitar um sorriso em meu rosto. Exclamo de emoção quando a autora nos presenteia com um epílogo. Sigo em frente. ~ Leio as próximas 3/4 páginas em êxtase. Então a emoção lentamente vai se esvaindo, permitindo que outro sentimento ocupe seu lugar. Um sentimento que eu não estava preparada. Um sentimento de total decepção.

Yasmin Marie

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