CRÔNICAS DE UM LEITOR
- chaclivros
- 14 de nov. de 2017
- 2 min de leitura

Aumentei o som do fone de ouvido. A trilha sonora contagiante de Outlander ressoava e meus tímpanos agradeciam a melodia. Eu caminhava lentamente em direção ao ponto de ônibus após um longo dia de trabalho. A pequena caminhada de 10 minutos permitia-me vagar em meios aos meus pensamentos, ansiosa para retomar a leitura.
Talvez fosse a trilha sonora, mas me permiti viajar e explorar as diferentes possibilidades do que poderia estar vindo. Fechei os olhos, quando os abri, já não estava em uma rua tranquila de São Paulo. Estava em uma estrada, a mata fechava-se sobre mim e estava acompanhando de um grupo de soldados. Minha escolta. Meu interesse amoroso me olhava de canto. Ele estava preocupado.
O sangue secava nas palmas das minhas mãos e eu ansiava por algum riacho para me limpar. A morte havia sido rápida, suja e desajeitada. Nós contávamos de que eventualmente seríamos encontrados, o que não imaginávamos era que veriam em um grupo tão grande.
Seus olhos pesavam sobre mim e fechei os punhos, tensa. “Você pode perguntar se quiser”, as palavras saíam agudas de minha boca.
“Você está bem?”, a sua, no entanto, era um sussurro quase que imperceptível.
“Não”, respondi. Ele olhou para o restante do grupo e os ordenou que recuassem. Hesitantes, eles pararam onde estavam e continuamos pela trilha. Após uns bons 20 metros de distância dos soldados, ele parou seu cavalo em frente ao meu.
“Toda sobrevivência é carregada de sacrifícios”. Ele me olhava seriamente. Ele sabia que palavras doces de nada adiantariam agora.
“Não se preocupe. Já estou começando a me acostumar a viver uma meia vida. Com um pé aqui e outro no inferno...”
Estiquei a mão, o ônibus parou e subi. Avistei um acento livre e me sentei. Desliguei o Spotify, abri o livro e retomei a leitura de onde havia parado pela manhã... Em uma estrada com uma mata fechada.
Yasmin Marie
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